sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Começando o dia (e o blog)


Todos os dias a Charlote nos acorda com sua alegria e disposição contumazes e irritantes. As badaladas do relógio começam às 6:30 hs e, antes mesmo que a gente sequer cogite apertar o "soneca", ela já pula pra cabeceira e nos lambe compulsivamente no rosto. Geralmente a gente corresponde com um carinho, muito mais por ainda estarmos dormindo do que para celebrar o início CEDO de mais um dia.

Pois bem, hoje fui à forra. A véspera tinha sido um dia muito difícil, logo o sono agitado e o pensamento cheio me fizeram cair da cama bem antes da hora e, em vez de ir abraçar o meu marido bem quentinho debaixo do edredon, fui abraçar meu cão.

Ela estava em sua já habitual e confortável (para ela) posição: esticada, arreganhada, ocupando o maior espaço possível, tentando arduamente alcançar o espaço impossível, atravessada, bem onde deveriam estar as minhas pernas. Deitei do lado dela calmamente para n acordá-la. Sim, por consideração, a mesma consideração que ela nem de longe me dispensa todas as manhãs. Ok, ok, e também porque se ela resolvesse fazer algazarra àquela hora nós duas ficaríamos de castigo.

E fiquei ali, olhando, olhando, quando ela virou. E mesmo na escuridão, pude ver aqueles dois olhinhos pretos entreabertos me fitando como quem diz "oi, tá tudo bem?". Ou então era "porra, o que vc tá fazendo aí olhando pra minha cara?". Agora, pensando melhor, fiquei na dúvida.

Tive uma vontade súbita de que aquele bichinho simplesmente me abraçasse. Que ela me colocasse no peitinho branco dela, pusesse as patinhas em torno da minha cabeça e apertasse os olhinhos. Suspirar também seria legal. OK, escrevendo isso aqui a cena parece meio assustadora , mas na hora foi bacana.

Porque ela n me julgaria. Ela não perguntaria por que (ou, se perguntasse, eu n entenderia) e, se eu desabafasse, ela não se sentiria na obrigação de me falar nada, fosse pra aconselhar, pra me consolar, ou pra dizer que "com ela aconteceu a mesma coisa". Não me trataria diferente depois, nem iria querer voltar no assunto. Não me acharia fraca, fria, egoísta. Ela ficaria ali, com toda sua lealdade e seu carinho, gratuitamente, sem fazer qualquer juízo de valor. Por isso, sim, tendo disponível o abraço do meu marido, eu quis o do meu cão.

Dizem os filósofos de camiseta que o cachorro é o único amigo verdadeiro que o dinheiro pode comprar. Eu, pão-dura e pobre, nem comprar, comprei, peguei na SUIPA, dentre tanto outros. Não posso nem entoar a frase "foi ela que me escolheu", porque ela ignorou minha presença ali durante todo o tempo em que fiquei com a cara enfiada na gaiola, ocupada atazanando a vida dos irmãos. Eu a escolhi. Uma das poucas escolhas certas que eu fiz na vida (empatada com o marido).

Então enquanto eu fiquei fazendo carinho nela e imaginando o meu almejado abraço, ela cortou o clima, deu um pulo e foi ao banheiro (dela, claro, não o meu, porque ela AINDA não chegou nesse nível). Devia estar com vontade há horas, mas constrangida em me dar um fora.

Voltou abanando o rabo, subiu na cama marchando contundente por cima do Alê, e se aninhou no meu braço. Virou pro meu rosto, me encarou, e tascou uma lambida daquelas. Virou-se pro outro lado, outra ajeitada e voltou a dormir.

E que abraço gostoso.

OBS: Charlote é um cão de porte médio, com 1 ano e 4 meses, agitado, que se tornou a alegria da casa logo que chegou com todos os seus 12.567.934 vermes na barriga. Hoje tenta voltar ao seu peso ideal, após um senhor a chamar de obesa durante um de seus passeios.

OBS: Janine é uma mulher comum, grávida do Gustavo, desempregada e muito aflita por isso, mas extremamente sortuda pelos amigos queridos que tem e por ter se casado com o grande amor da sua vida. Apaixonada por bichos e, em especial, pelo seu cão. E a despeito do conteúdo da postagem, nada carente.